17/05/2009

Hereditariedade Moral


HEREDITARIEDADE MORAL
Frequentemente, os pais transmitem aos filhos a parecença física.
Transmitirão também alguma parecença moral?
Não, que diferentes são as almas ou Espíritos de uns e outros. O corpo deriva
corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças
apenas há consanguinidade. Questão 207 de O Livro dos Espíritos.
Vários provérbios ressaltam a ideia de que os filhos reproduzem defeitos e qualidades dos pais:
Tal pai, tal filho...
Filho de peixe, peixinho é...
Quem sai aos seus não degenera...
Filhos de gatos, ratos mata...
Filho de burro pode ser lindo, mas um dia dá coice...
Bem, depende do ângulo em que observamos o assunto.
Quanto à estrutura física é notório que funciona a hereditariedade. Filha de pais obesos dificilmente será manequim. Filho de pais magérrimos terá poucas chances de ser lutador de sumo.
Há, também, certo peso hereditário determinando o quociente de inteligência. Pais de QI elevado guardam melhores chances de gerar filhos inteligentes. Pesquisas demonstram isso.
Aqui é preciso levar também em consideração o nível social. Indivíduos de QI elevado obtem maior sucesso profissional, garantindo razoável estabilidade econômico-financeira. Consequentemente seus filhos serão bem nutridos, terão melhores escolas, cuidados médicos adequados, vida mais saudável, opções numerosas de esporte e lazer. Tudo isso favorece o desenvolvimento intelectual.
Imperioso recordar sempre, no estudo da reencarnação, que o Espírito subordina-se às possibilidades do corpo que lhe serve às experiências humanas, como um corredor de Fórmula Um está sujeito às potencialidades de sua máquina. Ayrton Senna, ás do automobilismo mundial, afundaria em ostracismo sem um carro de tecnologia de ponta.
Um gênio da Espiritualidade terá imensas dificuldades em mobilizar seu potencial num corpo subnutrido desde a gestação.
Isso é claramente demonstrado nas experiências com adoção. Filho de favelados humildes, paupérrimos, é adotado por família rica, ainda recém-nascido. Recebe desde logo o que há de melhor em nutrição e cuidados médicos. O confronto deste bebê, na idade adulta, com um irmão que permaneceu na favela, revelará sensível diferença em favor do primeiro.
O mesmo não se pode dizer quanto à moral.
Não herdamos a bondade ou a maldade, o altruísmo ou o egoísmo, o vício ou a virtude de nossos pais.
Esses valores não estão impressos nos genes, nem se condicionam à estrutura ou desenvolvimento.
Constituem patrimônio do Espírito.
Há, sem dúvida, também aqui, a influência do meio. A criança é sensível aos exemplos que recebe, ao pressionamento do ambiente em que vive.
Mas é uma influência relativa, mesmo porque a evolução moral opera-se de dentro para fora, a partir da disposição íntima do indivíduo em lutar contra suas imperfeições e deficiências.
Por isso os filhos revelam suas próprias características, eminentemente pessoais, sua maneira de ser, não raro em oposição ao lugar em que vivem e aos estímulos que recebem.
A melhor demonstração disso está no próprio lar.
Numa família de cinco filhos, com os mesmos pais, o mesmo ambiente, os mesmos cuidados, sob as mesmas condições, são todos diferentes entre si, como os dedos da mão.
Há um carinhoso; outro que é muito agressivo.
Há o que não gosta de mentir; outro que se destaca por ser amigo do engodo.
Há o fascinado por sons estridentes; outro que prefere música suave.
Há o ávido por aventuras amorosas; outro extremamente comedido no relacionamento afetivo.
Entre pais e filhos, a mesma antítese.
Exemplo marcante: Marco Aurélio e Cômodo.
Marco Aurélio, o mais virtuoso e sábio dos imperadores romanos, imortalizado por seu amor à filosofia e às letras.
Cômodo, seu filho, teria passado anônimo pela História, não fora o lamentável destaque para sua crueldade e devassidão.
A moral, portanto é a carteira de identidade do Espírito, dando-nos conta de que ele é filho de si mesmo, de seus patrimônios íntimos, de suas experiências pretéritas, revelando-nos o estágio de evolução em que se encontra.
Noutro dia, referindo-se a uma família onde pais e filhos têm comportamento imoral, sempre dispostos a lesar o semelhante, um amigo comentava:
— É tudo farinha do mesmo saco.
Realmente, isto pode acontecer, não por herança moral ou mera influência ambiente, mas por afinidade.
Uma família de bandidos é constituída por Espíritos que tem essa tendência.
Uma família de gente honesta e digna integra Espíritos do mesmo porte.
Há, ainda, a “ovelha negra”, um filho degenerado, de comportamento inconsequente e vicioso, no seio de uma família ajustada. Espírito atrasado que foi acolhido com o propósito de ser ajudado em seu aprendizado.
O inverso também acontece: uma “ovelha branca” entre marginais. Espírito evoluído numa tarefa sacrificial em favor dos familiares.

Algo semelhante ocorre em relação à vocação, ponta visível de nosso universo íntimo, sem subordinação a fatores hereditários ou ambientes.
Desde a mais tenra infância a criança revela tendências e habilidades relacionadas com determinada atividade que, não raro, surpreendem os adultos.
Se houvesse uma escola para os pais uma disciplina seria indispensável: como ajudar os filhos a seguir suas inclinações, no indispensável casamento entre vocação e profissão.
Quando isto não ocorre, temos verdadeiros desastres:
Maus médicos que seriam excelentes fazendeiros.
Maus advogados que seriam ótimos músicos.
Maus administradores que se dariam bem melhor como operários.
Diz Gibran Khalil Gibran, em “O Profeta”:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da Vida por si mesma.
Eles vem através de vós mas não são de vós.
E embora convivam convosco, não vos pertencem.
Jesus diz algo semelhante no famoso diálogo com Nicodemos, quando proclama:
O Espírito sopra onde quer; tu lhe ouves a voz, mas ignoras donde ele vem e para onde vai...
Os dois textos aplicam-se à concepção reencarnacionista, dando-nos conta de que os filhos trazem suas próprias aptidões e senso moral.
Podemos e devemos auxiliá-los a desenvolver para o Bem esses valores. Para isso estão juntos de nós.
Consideremos, contudo, que chegará o momento em que seguirão seus caminhos. Então, aprenderão com seus próprios erros e crescerão com seus próprios acertos.


(De “Quem tem medo dos Espíritos?”, de Richard Simonetti)