21/04/2012

Revista Época - O Novo Espiritismo


A religião assume uma face moderna e cresce entre os jovens de classe média. Maior país espírita do mundo, o Brasil já exporta a Doutrina para os Estados Unidos

Martha Mendonça

A Top Model Raica Oliveira, de 22 anos, foi criada na religião espírita. Nascida em Niterói, a namorada do craque Ronaldo mora hoje com a maior parte do tempo do ano em Nova York por conta dos compromissos profissionais. Quando está nos Estados Unidos, Raica vai ao centro Casa São José na cidade vizinha de New Jersey, frequentado por brasileiros como Divaldo Pereira Franco e Raul Teixeira - considerados médiuns pelos adeptos da doutrina.

Raica, Raul e Divaldo são, segundo uma reportagem publicada recentemente no jornal americano The New York Times, as faces visíveis de um novo fenômeno: a abertura de centros espíritas nos Estados Unidos dirigidos por brasileiros, frequentados pela comunidade latina e também por americanos. O Brasil não é apenas o maior país católico do mundo. É também a nação com maior número de espíritas, cerca de 20 milhões de pessoas, segundo os números oficiais. E, agora, tornou-se também o principal pólo difusor da religião fundada e sistematizada pelo frncês Allan Kardec.

Os Espíritas têm renda familiar150% superior à média nacional

Quais as características desse espiritismo que o Brasil professa e exporta ? pode-se dizer que o rosto de Raica, uma das mulheres mais bonitas do país, é a face-símbolo de uma nova fase na religião. Esqueça os copos que se movimentam sozinhos sobre a mesa branca, as operações com canivete e sem anestesia do médium Zé Arigó e as sessões de exorcismo coletivo transmitidas pelo rádio. Isso tudo ainda existe, mas o crescimento e a exportação da doutrina se devem principalmente a seu lado menos místico e mais racional.

Esse "novo espiritismo" preserva os pilares básicos da religião: a imortalidade do espírito, sua reencarnação e evolução, além da possibilidade de comunicação entre vivos e mortos. mas se baseia muito mais em leituras e na introspecção que em rituais ou sessões que invocam supostas forças do além. São incentivadas também as duas práticas mais fortes da doutrina: a caridade e a tolerância religiosa. O espiritismo vem crescendo no Brasil, principalmente entre jovens de classe média. No site de relacionamentos Orkut, já existem 366 comunidades sobre "espiritismo" e outras 808 quando se busca a palavra-chave "espírita.

77% dos espíritas têm entre oito e 15 anos de estudo, em médiadez anos a mais que os católicos

A maior delas se chama simplesmente Espiritismo. tem 183.546 membros. Lá, as discussões variam desde assuntos simples, como o lançamento de um livro, até questões teóricas mais elaboradas, como a relação entre espíritos e Física Quântica. Curiosamente, a palavra "católicismo" registra apenas 34 comunidades, e "católico" 421. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística calcula que a doutrina espírita tem 20 milhões de adeptos no Brasil, afora os que professam o espiritismo como segunda religião. A doutrina cresceu 40% entre os últimos dois censos. Os dados do IBGE mostram que esse crescimento se deu principalmente nos estrados mais ricos e escolarizados da população.

. A Renda dos Espíritas é 150% superior à média nacional, e 52% deles ganha acima de 5 salários mínimos. Entre os espíritas, 77% têm entre oito e 15 anos de escolaridade, dez anos em média a mais que os católicos.

Além de Raica de Oliveira, outras celebridades vêm aderindo ao espiritismo, embora poucas alardeiem professar a crença. Boa parte prefere tratar o assunto como algo privado. É o caso da atriz Cleo Pires, que herdou a fé do seu pai, o cantor Fábio Júnior, e dos avós maternos. O tenista Gustavo Kuerten recentemente se submeteu a um tratamento espírita, levado por seu fisioterapeuta, Nilton Petrone - o mesmo de Xuxa e Romário.

Sofrendo de dores nos quadris que o derrubaram do primeiro para o 452º lugar no ranking do esporte, Guga, aos 29 anos, recorreu a um tratamento espiritual no Lar do Frei Luiz, centro espírita da zona oeste do Rio. "Foi minha primeira experiência com o espiritismo. Estou mais calmo e equilibrado.", disse Guga à Época. Tecnicamente, o tratamento, ocorrido no dia 10 de junho, não foi uma cirurgia, pois não houve cortes. Guga seguiu o procedimento-padrão do centro. Primeiro, ficou mais de uma hora na sala de orações, com mais de 50 pessoas. Depois, foi com um pequeno grupo para uma sala escura. "O tratamento espiritual não substitui a fisioterapia, apenas a complementa", diz Nilton Petrone.

O novo espiritismo que atrai gente como Raika ou Guga engendrou algo que se pode chamar de "Cultura Espírita". É natural, numa religião em que a leitura prevalece cada vez mais sobre o virtual, que a faceta mais visível dessa cultura sejam os livros. Vários deles atingiram a lista dos best-sellers. Sozinho, o mineiro Chico Xavier, morto em julho de 2002 e considerado o maior dos médiuns pelos adeptos da religião, vendeu (e ainda vende) 25 milhões de exemplares de seus mais de 400 livros, todos supostamente psicografados. Zibia Gasparetto, de 78 anos, já vendeu 5 milhões de exemplares de obras que afirma ter psicografado. Há dez anosnão sai da lista dos dez bet-sellers nacionais. Outro sucesso nas livrarias foi a coletânea de entrevistas Encontro com Médiuns Notáveis, escrita pelo músico e pesquisador Waldemar Falcão. O jornalista Marcel Souto Maior chegou à casa dos 300 mil exemplares nos últimos dez anos, desde que lançou a biografia As Vidas de Chico Xavier. O livro vai servir de base para um filme, com direção de Daniel Filho e lançamento previsto para o ano que vem.

A principal característica da cultura espírita é que ela ultrapassa os adeptos da doutrina e até aqueles que têm o espiritismo como segunda religião. Para além dos livros que fazem sucesso com os leitores de todas as crenças, os programas de televisão que tratam do assunto sempre conseguem uma larga audiência. Trasnmitida até o início deste ano, a novela Alma Gêmea, da TV Globo, teve o melhor Ibope do horário das 6 na última década, impulsionada por uma história de reencarnação. Quando o folhetim foi ao ar, a Globo fez uma pesquisa qualitativa para saber a aceitação do tema entre os espectadores. Mesmo os que não eram espíritas aprovaram enfaticamente a trama e os personagens. Quando terminar sinhá moça, que está no ar com resultados inferiores aos de Alma Gêmea, entrará no ar O Profeta. Nova versão da novela de Ivani Ribeiro dos anos 70, na Tupi. a trama gira em torno de espiritismo e mediunidade. Na nova versão de O Profeta, o protagonista será interpretado pelo ator Thiago Fragoso. "O telespectador gosta de assuntos que o levem a pensar sobre o que somos, para onde iremos", diz Walcyr Carrasco, autor de Alma Gêmea e supervisor da adaptação de O Profeta.

O diretor-geral do programa Linha Direta, da TV Globo, Milton Ubirached, diz que se assustou com a repercussão dos episódios que tocaram no tema do espiritismo. "No ano passado, a história sobre cartas psicografadas de 13 mortos do Edifício Joelma (Prédio Paulista que pegou fogo em 1974 e deixou 189 mortos) deu 30 pontos de audiência à meia-noite", afirma. Em julho, de olho na curiosidade do público, esse episódios serão reunidos em DVD. Outro programa da série que conseguiu boa audiência relatando um caso curioso. No fim de maio, no município gaúcho de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, uma carta supostamente ditada por um morto ajudou na absolvição da ré Iara Barcelos, de 63 anos, acusada de ser mandante de um crime. O juri ficou sensibilizado pela mensagem, que seria da vítima, o tabelião Ercy da Silva Cardoso. Na carta Ercy afimava a inocência de Yara.

A fé herdada

A atriz Cleo Pires chegou ao espiritismo por influência do pai, Fábio Junior, e dos avós maternos

A Cultura Espírita ja chegou aos Estados Unidos. Filmes arrasa-quarteirão como Ghost, de 1990, já mostravam o apelo de temas como a comunicação entre vivos e mortos. Agora, começa a fazer sucesso na televisão americana a série Médium. Nela, uma mulher psicografa mensagens que ajudam a desvendar crimes. A protagonista da série é baseada em uma personagem real, a americana Allison Dubois, cujo livro Não é preciso dizer adeusacaba de ser lançado no Brasil. Citado na reportagem de The New York Times, o espírita Divaldo Pereira Franco, de 79 anos, acredita no crescimento da doutrina nos Estados Unidos, onde começou a fazer palestras em 1962. "Em minha última palestra, em Baltimore, 70% da platéia era de americanos", diz Franco. Em Nova York foram criados dez centros espíritas na últtima década. Em New Jersey, mais seis.

O que explica a adesão crescente da classe média ao espiritismo ? Quem responde é o sociólogo Flávio Pierucci, na Universidade de São Paulo. autor de A Realidade Social das Religiões no Brasil: "O espiritismo é uma religião confortável. Ela suavisa o drama da morte e dá respostas lógicas ao que acontece de bom ou de ruim.

Sem falar que podemos levar créditos ou débitos para outras vidas". Piericci considera que há três razões pelas quais "o novo espiritismo" atrai tantos adeptos entre a classe média:

  1. A Doutrina Espírita se baseia num conjunto de idéias muito bem sistematizado e, portanto, passível de aceitação nacional.
  1. Ela é flexível e acolhe gente de todas as religiões.
  1. A forma original da religião fundada por Kardec de lidar com a questão da morte.

Para entender cada um desses motivos, é preciso fazer um breve histórico da religião espírita. As idéias que alicerçam o espiritismo foram sistematizadas pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon em 1804. Ele passaria para a história sob o pseudônimo de Allan Kardec - que seria o nome de um druida, supostamente sua encarnação anterior. Nascido em uma família de magistrados católicos, ele decidiu seguir também o caminho da educação e sempre lutou pela democratização do ensino público na França. Em 1854, kardec se interessou pelo fenômeno então conhecido como "mesa giratória". Nos salões elegantes, após os saraus, gente da alta sociedade costumava se sentar em torno dessas mesas para, segundo acreditavam, dialogar com os espíritos. Utilizando recursos supostamente mediúnicos dos presentes, as entidades desencarnadas se manifestariam. Segundo os historiadores, o fenômeno foi a coqueluche da sociedade francesa de 1853 a 1855. Os eventos das mesas giratórias ganharam dezenas de reportagens dos jornais europeus.

Kardec mergulhou nesse universo por três anos, até estruturar uma doutrina que, segundo ele, unia os conhecimentos científico, filosófico e religioso. Ele escreveu sua obra básica, O Livro dos Espíritos, em 1857. O livro é resultado dos diálogos que Kardec afirma ter estabelecido com os espíritos desencarnados nas diversas reuniões mediúnicas de que participou. Kardec não dizia ser médium. Afirmava valer-se de um método científico para conferir a veracidade dos diálogos. Dizia ouvir a voz de diferentes espíritos por meio de diferentes médiuns para cotejar as versões. A obra se estutura em 1.019 tópicos, no estilo pergunta e resposta. O Livro dos Espíritos serviu de base para mais quatro obras de Kardec: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Como há outras religiões espiritualistas - que creêm na vida além da matéria -, criou-se a expressão "Kardecismo" para diferenciar a doutrina de Kardec das outras. O termo, porém, é considerado errôneo pela Federação Espírita Brasileira (FEB). Chamar o espiritismo de kardecismo é considerado uma redundância. Kardec morreu em 1869, aos 64 anos, e seus livros estão para o espiritismo como o Novo Testamento para os cristãos, a Torá para os judeus e o Alcorão para os mulçumanos.

Quando Kardec codificou sua doutrina, deu-lhe um revestimento científico

É essa roupagem racional o primeiro motivo para o sucesso do espiritismo no mundo moderno. "Razão a fé não estão em polos opostos. Cremos em algo lógico, não místico", diz o presidente da Federação Espírita Brasileira, Nelson Masotti. "Seria difícil seguir uma religião que não estimula a discussão e o conhecimento", diz o engenheiro carioca Ricardo Danziger, de 47 anos, filho de mãe católica, e pai judeu. Toda a sua família - a mulher, Ana Cristina, e os filhos adolescentes, Ricardo e Júlia - professa a religião espírita e frequentam o mesmo centro, o Lar Teresa, no bairro carioca de Copacabana.

Ao contrário do que se possa imaginar, quem entra num centro espírita não vai encontrar médiuns se contorcendo ou sessões de exorcismo coletivo. Centros espíritas são, mais que tudo, espaços de leitura, discussão e prece. Nas reuniões dos espíritas, normalmente há primeiro uma leitura de um dos livros de Kardec. Depois uma palestra em que o participante do centro apresenta suas interpretações sobre algum ponto da doutrina. Por fim, há o passe, momento em que o médium (não necessariamente incorporado) diz trocar energia com os presentes. Ao fundo, oração coletiva e, em muitos casos, luz mais fraca.

TOLERÂNCIA

Raul Teixeira é considerado pelos espíritas um dos maiores médiuns brasileiros. "Quem se degladia com outras religiões mostra falta de maturidade na fé. Quem não crê o suficiente tenta convencer os outros para convercer a si próprio", diz.

A segunda razão para o crescimento do espiritismo é a flexibilidade da doutrina. Avessos a fundamentalismos, hierarquias, sacerdotes, altares e ídolos, os espíritas acolhem pessoas de todas asreligiões. Não há exigências na atitude, no vestuário ou cobrança financeira. Adeptos de outras religiões costumam se envolver com o espiritismo sem necessariamente abandonar as crenças originais. "Somos avessos ao fundamentalismo. Dai ser tão importante o estudo e a leitura", afirma o carioca Raul Teixeira, considerado pela Federação Espírita Brasileira um dos maiores médiuns do país. "Quem se degaldia com outras religiões mostra falta de maturidade na fé. Quem não crê o suficiente tenta convencer os outros para convercer a si mesmo." Uma pesquisa realizada pela Federação Espírita Brasileira em São Paulo e no Rio Grande do Sul mostra que apenas um em cada quatro frequentadores de centros se considera oficialmente espírita. "Não temos dogmas, santos, hierarquia. Há respeito por todas as crenças", diz o economista carioca André Menezes Cortes, de 36 anos. nascido em uma família católica, hoje ele é adepto da doutrina de Kardec.

A terceira e principal razão para que o espiritismo tenha tantos adeptos é a maneira como a religião fundada por Kardec lida com a questão da morte. para os espíritas, ela não é o fim de tudo. É possivel ter outras vidas e nelas resolver assuntos pendentes de encarnações passadas. É algo semelhante ao que os budistas costumam chamar de carma, uma espécie de "preço" para nas diversas vidas rumo à evolução espiritual. Para os cristãos, a vida é uma chance única: resolva tudo agora e salvará sua alma - ou arderá no inferno. O Budismo e o induismo admitem a reencarnação. Só o espiritismo, no entanto, diz possibilitar a comunicação entre "encarnados" e "desencarnados". Segundo os espíritas, é possível trocar mensagens orais ou escritas por meio dos médiuns - pessoas que funcionam como antenas entre os dois mundos.

CONVERSÃO

O economista carioca André Menezes Cortes, de 36 anos, nasceu numa família católica. Hoje se diz espírita. "Não temos dogmas, santos, hierarquia, e há respeito por todas as crenças", afirma.

Chico Xavier foi o maior deles. Escreveu mais d 400 livros. Mulato pobre, nascido em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais, Chico foi perseguido e investigado desde os anos 30, quando sua fama se alastrou pelo país> Nessa época, ele dizia psicografar textos de escritores e poetas mortos, que guardavam, para espanto geral, incrível semelhança com o estilo original. nas décadas que se seguiram, Chico se tornou referência no mundo do espiritismo. Isso resultou em verdadeiras romarias a sua casa, em Uberaba, em Minas, para onde se mudou em 1959 e onde morou até morrer, aos 92 anos, em 2002.

As obras de Chico Xavier trouxeram imenso consolo ao taxista carioca Gilberto da Silva Netto, de 65 anos. Há algumas semanas, as noites de Gilberto tem sido dedicadas à leitura de Jovens no Além, escrito por Chico Xavier em 1975. O livro tras mensagens supostamente psicografadas por pessoas que perderam a vida cedo, em circunstâncias trágicas. Gilberto é pai de Rodrigo, o Nettinho, guitarrista da banda Detonautas, assassinado num assalto no início de junho no Rio. Católico de formação. Gilberto se define como cético sobre qualquer religião. Mas diz ter se aproximado do espiritismo em busca de respostas "Quero acreditar que meu filho está bem, em algum lugar", diz o taxista. Ele também perdeu a mãe de seus filhos, de câncer, há mais de 20 anos. Sua atual mulher, a professora Eliane Perez, que criou Rodrigo desde os 9 anos, é espírita desde jovem e procura acalmar a família depois da tragédia. "Tenho explicado a todos que nada é por acaso. E que algum dia vamos todos nos reencontrar, de alguma maneira", afirma Eliane.

A presençado espiritismo na cultura brasileira vem de longe. Pode-se dizer que dois conjuntos de idéias originalmente francesas - o espiritismo e o positivismo, de onde herdamos o lema "Ordem e Progresso" - encontraram solo fértil no Brasil francólico da virada do século XIX para o XX. Nessa época, o jornalista João do Rio - um adepto do estilo de jornalismo literário que nos anos 60 viria a ser chamado de "new jornalism" pela geração de Tom Wolf e Gay Talese - registrou o frison em torno do espiritismo em seu livro As Religiões do Rio. "Nas rodas mais elegantes, entre os sportsmen inteligentes, lavra o desespero das comunicações espíritas, como em Paris o automobilismo", escreveu João do Rio em um livro em 1904 que acaba de ser relançado no Brasil.

O MITO


Chico Xavier é uma referência para os espíritas do mundo inteiro. Sua imensa popularidade é uma das razões do crecimento do espiritismo no Brasil. A doutrina de Kardec chegou ao Brasil logo depois de ter sido divulgada noLivro dos Espíritos, por meio de um grupo de franceses que moravam no Rio, então capital do Império. Foi rapidamente absorvida por uma elite. Com o tempo, começaram as primeiras repercussões de supostos eventos mediúnicos e tratamentos espirituais. A partir de 1890, um movimento liderado por médicos, apoiados por juristas, resultou em perseguição ao espiritismo. "De certa forma, naquele momento a doutrina concorria com a medicina", diz a antropóloga Sandra Stohl, autora do livro Espiritismo à Brasileira, baseado em sua tese na Universidade de São Paulo. Foi o médico Adolfo Bezerra de Menezes, na primeira metade do século XX, quem deslocou o foco da doutrina da ciência para a caridade. Essa ênfase se tornou uma característica marcante do espiritismo brasileiro. Estima-se que meio milhão de pessoas no país recebam ajuda de alguma entidade espírita. A própria Federação Espírita Brasileira iniciou um trabalho social em 1884, ano de sua fundação. Heje ela dá assistência a aproximadamente mil famílias, além de manter uma creche para 800 crianças na cidade de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás.

As Casas André Luiz, de São Paulo, atendem pacientes pacientes com problemas de saúde mental - 630 em regime de alojamento e 800 em regime ambulatorial. A assitência se estende à familia do doente, já que quase todos os pacientes são muito pobres. Divaldo Pereira Franco, aquele que também atua nos Estados Unidos, mantém em Salvador a Mansão do Caminho. Desde 1947, a entidade já prestou atendimento médico e odontológico a mais de 30 mil pessoas. vivemos num mundo cada vez mais competitivo, em que muitas vezes a caridade é deixada em segundo plano. A época atual é também de recrudescimento de fundamentalismos que sufocam a liberdade religiosa. Num tempo assim, a acolhida cada vez maior da mensagem espírita, fundamentada na tolerância e solidariedade, é um fato a comemorar

RACIONALIDADE

"Seria difícil seguir uma religião que não estimula a discussão e o conhecimento", diz o engenheiro carioca Ricardo Danziger, de 47 anos. Sua mulher, Ana, e os filhos, Ricardo e Júlia, também são espíritas.

04/04/2012

CADA QUAL



“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”.- Paulo. I
CORINTIOS 12:4.

Em todos os lugares e posições, cada qual pode revelar qualidades
divinas para a edificação de quantos com ele convivem.
Aprender e ensinar constituem tarefas de cada hora, para que
colaboremos no engrandecimento do tesouro comum de sabedoria e
de amor.
Quem administra, mais freqüentemente pode expressar a justiça e a
magnanimidade.
Quem obedece, dispõe de recursos mais amplos para demonstrar o
dever bem cumprido.
O rico, mais que os outros, pode multiplicar o trabalho e dividir as
bênçãos.
O pobre, com mais largueza, pode amealhar a fortuna da esperança e
da dignidade.
O forte, mais facilmente, pode ser generoso, a todo instante.
O fraco, sem maiores embaraços, pode mostrar-se humilde, em
quaisquer ocasiões.
O sábio, com dilatados cabedais, pode ajudar a todos, renovando o
pensamento geral para o bem.
O aprendiz, com oportunidades multiplicadas, pode distribuir sempre
a riqueza da boa-vontade.
O são, comumente, pode projetar a caridade em todas as direções.
O doente, com mais segurança, pode plasmar as lições da paciência
no ânimo geral.
Os dons diferem, a inteligência se caracteriza por diversos graus, o
merecimento apresenta valores múltiplos, a capacidade é fruto do
esforço de cada um, mas o Espírito Divino que sustenta as criaturas é
substancialmente o mesmo.
Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho em
que nos encontramos.
Repara a posição em que te situas e atende aos imperativos do
Infinito Bem. Coloca a Vontade Divina acima de teus desejos, e a
Vontade Divina te aproveitará.

Fonte: Fonte Viva

03/04/2012

Desafio de hoje

Seria impossível para um habitante do planeta Terra, nascido no século XVIII, imaginar nosso planeta com tanta gente vivendo nele.

Naquela época, a população crescia lentamente, devido às precárias condições de saúde e limitações da medicina.

Foi somente a partir do século XIX que a população mundial começou a crescer mais intensamente.

No ano 1800, éramos apenas um bilhão de pessoas na Terra. Nessa época, a população começava a crescer tão rapidamente que alguns estudiosos afirmavam que não haveria alimentos para todos.

Alegavam esses pesquisadores que a população cresceria muito mais rápido que a capacidade de gerar alimentos. Assim, não teríamos como alimentar a todos por falta de recursos.

Hoje, neste início do século XXI, somos sete bilhões de seres reencarnados no planeta. E, surpreendentemente, desenvolvemos competência para gerar alimentos para todos.

A evolução tecnológica, as pesquisas científicas, novas técnicas desenvolvidas nos mais variados campos permitiram que a vida florescesse de forma tão pulsante.

São os ganhos na agricultura, na medicina, na saúde pública que nos dão condição de vivermos, todos os sete bilhões de habitantes, em nosso planeta.

E hoje, as maiores dificuldades para viver tantos no mesmo planeta, não são as tecnológicas, como previram alguns.

Hoje, quando mais e mais nos esbarramos, nos encontramos e convivemos em espaços mais ocupados, o maior problema do homem é o próprio homem.

Não dependemos, hoje, para sobreviver, de descobertas ou invenções miraculosas. Essas, graças aos grandes homens da ciência, vêm se fazendo a seu tempo e dando seu contributo.

Dependemos apenas de nós mesmos. Agora que somos tantos, faz-se urgente que aprendamos a conviver, a viver em comunidade, a confraternizar em paz e harmonia.

Nesse dias onde tantos se isolam atrás de muros, onde muitos fogem na solidão de seus lares vazios, nunca foi tão urgente que aprendamos a nos tolerar, a nos entender.

Vivemos tempos onde as pessoas são intolerantes com as pequenas dificuldades do dia a dia.

São capazes de se digladiar por dificuldades no trânsito, de se ofenderem por um desentendimento qualquer, de agredirem-se fisicamente por motivos banais e fúteis.

Jamais aqueles de ontem poderiam imaginar ser a terra capaz de abrigar tanta gente.

Mas talvez não poderiam supor que o maior desafio seria o da convivência, o de aprendermos a nos amar.

* * *

Se já dominamos o mundo com a tecnologia e a ciência, faz-se agora o tempo de conquistarmos nosso mundo íntimo com o amor e a tolerância.

Somente assim, a Terra se fará berço bendito para todos, a fim de que se cumpra o desígnio para cada um de nós, conforme assevera Jesus: Aprender a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Redação do Momento Espírita.
Em 31.03.201

02/04/2012

Por que dia dos Espíritas?


Muitas vezes somos pegos em situações tais que somos obrigados a nos pronunciar, sob pena de sermos considerados omissos. Este assunto constitui uma destas situações.

O Estado de São Paulo, pela Lei nº 9471 de 27/12/96, e o Estado de Minas Gerais, pela Lei nº 12757 de 8/01/98, instituíram em suas jurisdições o dia 18 de abril como "Dia dos Espíritas".

A origem está, infelizmente, em políticos ditos Espíritas que, por ingenuidade, por desconhecimento da Doutrina ou com objetivo de se fazerem notados politicamente pelos Espíritas, propõem tais medidas, que depois de aprovadas constrangem as pessoas a aceitarem como um fato consumado.

Se a moda pega, outros Estados aprovarão norma semelhante e, talvez, até surja uma Lei Federal. Além disso, os órgãos legislativos que as aprovaram, realizam, na data especificada, sessões especiais para prestarem homenagem aos Espíritas.

Alguns órgãos de divulgação espírita estão destacando tais fatos como se eles fossem importantes para o movimento espírita. Logo os Espíritas que devem dar exemplo de humildade e fraternidade, que a doutrina espírita evidencia como fundamentais para o desenvolvimento moral da humanidade!

Alguns poderão dizer – "mas existe dia para um sem número de outros motivos; há até um dia para a caridade, 18 de julho, instituído a nível federal" -, como se a caridade só devesse ser praticada nesse dia. E os profitentes das demais religiões, como estão interpretando essa homenagem? Qual seria a reação dos Espíritas, se fosse instituído o dia 25 de dezembro como dia dos Católicos?

Será que Kardec aprovaria a instituição do dia dos Espíritas?

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", os princípios de humildade e fraternidade pregados por Jesus são enfatizados e exemplificados em vários capítulos.

Em "O Livro dos Espíritos", na resposta à pergunta 917, Fénelon esclarece:"O choque, que o homem experimenta, do egoísmo dos outros, é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem, o princípio da caridade e da fraternidade, e cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensaram. Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de ordinário, absolutamente lhe não agradecem."

E ainda, na Conclusão de "O Livro dos Espíritos": "Mas, a fraternidade pressupõe desinteresse, abnegação da personalidade. Onde há verdadeira fraternidade o orgulho é uma anomalia".

Falando em leis é bom lembrar a Lei de Igualdade, entre as demais Leis Morais que constam da terceira parte da obra fundamental da Doutrina Espírita.

Além do mais, já está consagrado, não em Lei, mas na prática, que o dia 18 de abril é o dia do Livro Espírita. Isso já é o suficiente.

(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1998)

01/04/2012

Corrijamos agora



Em plena vida espiritual, além do caminho estreito da carne, sempre realizamos o inventário de nossas aquisições no mundo.

Em semelhantes ocasiões, invariavelmente nos escandalizamos à frente de nós mesmos e rogamos, então, à Divina Providência, a graça do retorno à matéria mais densa, sem as vantagens terrestres que nos serviram de perda.

É por isso que renascemos no mundo com singulares inibições congeniais.

Aqui é um cego que pediu a medicação da sombra para curar antigos desvarios da visão.

Ali, é um surdo que solicitou o silêncio nos ouvidos, como bênção de reajuste da própria alma.

Mais além, somos defrontados pelo leproso que implorou do Céu a vestimenta de feridas e aflições, como remédio purificador da personalidade transviada do verdadeiro bem.

Mais adiante, encontramos o aleijado de nascença, que suplicou a mutilação natural por serviço valioso de auto corrigenda.

Doenças e amarguras, dificuldades e dores são meios de que nos valemos para a justa reparação de nossa vida, em nós ou fora de nós.

Atendamos ao aviso do Evangelho, no passo em que nos adverte o Senhor: “Caminhai, enquanto tendes luz”.

Enquanto se vos concede no mundo a felicidade de permanência no corpo físico — templo de formação das nossas asas espirituais para a vida eterna — não procureis o escândalo, a distância de vosso círculo individual!

Escandalizemos conosco, quando a nossa conduta estiver contrária aos princípios superiores que abraçamos.

Estranhemos nossos pensamentos, nossas palavras e nossos atos, quando não se afinem com o Mestre da Cruz, cujo modele procuramos, e, assim, amanhã não teremos a lamentar maiores faltas, alcançando a vitória sobre nós mesmos, em paz com a nossa própria consciência, em plena Vida Imperecível que nos espera ante o Mestre e Senhor.

Emmanuel

(De “Família”, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos diversos).