26/02/2013

O que posso ou o que quero?





...Em reunião mediúnica, logo nos primeiros tempos de minha participação na diretoria do Centro Espírita Amor e Caridade, na década de 50, século passado, o presidente da Instituição pediu ajuda aos mentores espirituais para resolver problemas existentes na sustentação dos serviços filantrópicos e doutrinários ali existentes. Para minha surpresa, o mentor que se manifestou disse:  O grande problema é que vocês fazem o que querem; não fazem o que podem. Se o fizessem, realizariam prodígios em suas atividades, superando todas as dificuldades.

Foi uma das lições mais incisivas e importantes que recebi da Espiritualidade. Raros não se enquadram, porquanto as pessoas pouco investem na aquisição das riquezas “que as traças e a ferrugem não corroem, nem os ladrões roubam”, como ensinava Jesus. Estão representadas, em boa parte, pelos valores espirituais que adquirimos quando nos dispomos a servir, participando de iniciativas que visam o bem do próximo.
Vejo voluntários na Casa Espírita que desenvolvem determinada atividade em duas horas semanais, o que representa apenas 1,19% das 168 horas que compõem o ciclo de sete dias. Alegam falta de tempo, sem considerar que tempo é uma questão de preferência. A propósito, segundo levantamento do Ibope, o brasileiro vê televisão por cinco horas e meia, em média, diariamente, o que representa 22,91% da semana.

E você sabe, leitor amigo, que nossa televisão não é das mais edificantes, principalmente as novelas que ocupam boa parte dessa audiência, a exaltarem o adultério, o sexo promíscuo, a desonestidade, a mentira, a dissolução dos costumes, tomados como padrão de comportamento pelos incautos. Isso sem falar dos programas do tipo Reality Show, de uma indigência intelectual e moral assustadora. Quanto tempo perdido, mal usado, comprometedor, não apenas para os que fazem tais programas, mas também para os telespectadores que recebem estímulos nada edificantes a inspirá-los negativamente!
Hoje, talvez mais do que ontem, repercute como expressão da realidade a observação de Jesus: “A seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros”. A seara tem o tamanho do mundo, com muito serviço em favor dos sofredores de todos os matizes, mas poucos são os que se dispõem a arregaçar as mangas, entregando-se ao serviço. E os que o fazem não raro limitam-se aos míseros 1,19%. Fazem o que querem, sem fazer o muito que podem.
Geralmente imaginamos que as regiões umbralinas, o purgatório descrito por  André Luiz, são habitadas por Espíritos que praticaram o mal na Terra, comprometendo-se no crime, na desonestidade, no vício... No entanto, basta observar com atenção, principalmente no testemunho de Espíritos que se manifestam nas reuniões mediúnicas, que a população dos sofredores no Umbral é formada, em grande parte, pelos indiferentes, que não acharam tempo nem disposição para o empenho do Bem, para a vinculação a obras filantrópicas.
Lá anda também o pessoal dos 1,19%, de tão reduzido combustível adquirido na lavoura do bem, que não foi suficiente para sustentar bruxuleante vela que lhes possibilitasse encontrar o caminho de saída na escuridão umbralina. É disso que nos fala André Luiz, quando adverte, no livro Nosso lar, psicografia de Chico Xavier: Ó amigos da Terra, quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração?  Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois.

Seria conveniente avaliar periodicamente a utilização de nosso tempo, perguntando, conforme a observação do mentor espiritual:  No investimento em favor do tesouro que as traças e a ferrugem não corroem nem os ladrões roubam, estou fazendo o que posso ou tão somente o que quero?
(Reformador de Fevereiro de 2013 – Richard Simonetti)